Por: Paulo Cabral Tavares, advogado
Dominguinhos morreu! Sem dúvida um dos maiores músicos brasileiros. Um dos grandes poetas da música também.Assisti comovido o seu depoimento narrando como tudo começou. Menino pobre, um certo dia, sem nada em casa para comer, a sua mãe, olhou a meninada toda esperando, quem sabe, um milagre. Daqueles que descem do céu para resolver um grande problema. E teve uma ideia. Pegou a sanfoninha de Dominguinhos, botou num saco e foi com ele para Garanhuns, num dia de feira.
Como sabemos nós nordestinos num dia de sábado, o dia de nossa feira. Chegou lá, mandou Dominguinhos sentar numa calçada, colocaram o chapeuzinho de sertanejo no chão e mandou o menino tocar. Aí foi juntando gente para ver aquele pirralho tocar a sanfona. Menino danado de bom. E “as pratas” foram caindo no chapeuzinho. Até juntarem dinheiro suficiente para fazer uma feira e levar comida para todos comerem em casa. Foi uma festa e “nunca mais nós passamos fome”.
Muitos anos depois, depois de fazerem uma viagem num pau-de-arara, para o Rio de Janeiro, com toda a família, Dominguinhos já famoso, pediram a ele para gravar a música “Triste Partida” de autoria de Patativa de Assaré, grande poeta nordestino que diz assim:
Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e novembro,
Já "tamo" em Dezembro
Meu Deus que é de nós
Assim fala o pobre
Do seco nordeste
Com um medo da peste
Da fome feroz...
De repente, depois de alguns versos, tudo parou. Fez-se um grande silêncio. Pensaram a princípio que era algum problema no som, até que perceberam que Dominguinhos chorava de soluçar.Todos em redor, respeitosamente ficaram em silêncio. Eram umas trinta e poucas pessoas no estúdio, alguns choraram também. Ficaram em silêncio até o poeta se recuperar. Foram nove minutos de choro e de silêncio em respeito ao músico que cantava a saga do nordestino que ele mesmo tinha vivido.
Também num dia de feira, desta vez já em Caruaru, quando Dominguinhos, ainda menino tocava na feira, para arranjar um dinheirinho, teve a sorte de ser encontrado por Luiz Gonzaga. O Gonzagão ficou encantado com o menino que era um “bicho” na sanfona, desde amais tenra idade, sem saber ler uma partitura. E se comprometeu a ajudá-lo se ele fosse para o Rio de Janeiro. E ele foi, com todo mundo, numa triste partida. Era um tempo ruim para os nordestinos. O resto é história. Ele contou com tristeza, que os seus pais não conseguiram nunca mais voltar para ver a sua terra.
Não podemos dizer que não houve melhora no nordeste, mas ainda existe gente passando fome e sede. Muita gente!!! Ainda vemos gado morrendo, a lavoura secando e o nordestino fazendo promessas,se apegando com Deus e com os santos, pois, é de onde poderá vir alguma ajuda,apesar da publicidade e das promessas enganosas de nossos políticos, inclusive dos nordestinos.
Agora Dominguinhos, que você deve estar no céu que é o lugar para o qual pessoas boas como você devem ir depois de morrer, só resta a você, junto com Gonzagão, Sivuca e outros gênios nordestinos falarem com o Pai Eterno, pedirem a ele pelos seus irmãos do nordeste para que não precisem mais continuar a sofrer de fome e de sede como vocês sofreram.
Salve, Dominguinhos...
Ubatã,30 de julho de 2013
Paulo Cabral Tavares