Por: Paulo Cabral Tavares - advogado
Eu li emocionado
a história de Valentim Tramontina que era o porteiro de um puteiro, isto mesmo,
uma casa de prostituição no interior do Rio Grande do Sul e foi demitido. Era o
pior emprego do povoado onde morava, mas era muito importante para ele, mas foi
demitido. Por ser analfabeto. Por não poder fazer um relatório mensal. E se
transformou num dos maiores industriais do Brasil que hoje emprega 5.500
trabalhadores tem 10 fábricas e exporta para mais de 120 países no mundo as
mercadorias de qualidade das fábricas Tramontina. E continua analfabeto.
A adversidade às
vezes nos obriga a reagir e tomar decisões importantes que mudam a nossa vida.
A historia dele
é também a minha história. Não, eu não quero servir de exemplo para ninguém nem
fiquei tão rico e tão bem sucedido como o velho Tramontina, mas a sua história
se parece muito com o que aconteceu comigo.
Depois de parar
de estudar no terceiro ano do curso científico em Salvador fui convidado a
trabalhar na construção da Usina do Funil. Depois da construção da barragem
passei a trabalhar como parte da administração da mesma. Muitos de nós foram
“aproveitados” e no meu caso a escolaridade era “alta” para os padrões locais.
Como empregado da administração da usina, eu morava num chamado “Bairro
Residencial”, onde moravam também muitos outros colegas. Ótimas casas, com luz,
água e transporte para Ubatã gratuitos. Sem falar na segurança que era quase
total, pois, haviam vigias e a entrada na usina era restrita aos empregados.
Quando a CHESF
assumiu a Usina fez diversas modificações, entre elas resolveu acabar com o
“Bairro Residencial”. Para nós foi um choque, pois, além de perder a qualidade
de vida ainda teríamos prejuízos com o pagamento de aluguel em Ubatã. E ficamos
muito revoltados. Mas com poucas chances de sucesso, no entanto.
Para resolver o
caso, ou seja, nos tirar de dentro da Usina para fora nos mandaram um afilhado
de ACM, por ele colocado na direção da CHESF na Bahia. Fiel ao seu líder no
quesito arrogância. Deu muitos tapas na mesa, ameaçou e nos colocou contra as
cordas. Eu tive uma grande discussão com ele, empregado estável que eu era na
época. Mas aos gritos ele me assegurou que se eu não aceitasse a proposta da
CHESF ele me demitiria.
Quando cheguei
em casa à noite, quando o sangue esfriou eu pensei na possibilidade da
demissão. E o quadro não foi muito animador. Com três filhos e mulher para
sustentar eu me dei conta de que não sabia fazer nada mesmo e não teria como
sobreviver.
Acometido de uma
terrível cólica renal vim para Ubatã para me tratar e aproveitei para assistir
um júri. Na angústia porque estava passando me empolguei com o grande orador,
Renato Reis, advogado da capital, foi deputado também, que veio defender
gratuitamente, vejam só, uma prostituta. Saí dali advogado. Fiz o vestibular e
o resto é história.
E até hoje eu
agradeço ao Dr. Antônio Rodrigues do Nascimento Filho por ter me “lembrado” que
eu poderia ser advogado.
Ubatã, 12 de fevereiro
de 2015.
Paulo Cabral Tavares