02 abril 2013

Artigo: Plano B

Paulo Cabral Tavares, advogado
Por: Paulo Cabral

Cada um de nós tem uma meta na vida. Um ideal, um sonho se você quiser. Na verdade a gente foi sempre preparada para alcançar este fim. Desde os primeiros ensinamentos de higiene, alimentação, cuidados pessoais e depois a escola, as primeiras disciplinas, nós somos preparados para alcançar a própria realização. Uma preparação para enfrentar a vida e sobreviver com os conhecimentos que adquirimos durante a longa jornada educativa.

Mesmo sem perceber, os nossos pais e responsáveis nos preparam para que nós possamos ganhar a nossa própria vida, ter as condições de não precisar dos outros para sobreviver e ter uma vida digna e confortável. Ás vezes não dá tão certo como imaginamos e como quiseram um dia nossos pais.

Minha mãe sonhava em me formar em medicina. Agente do correio e sem os recursos necessários para me manter em Salvador e pagar os estudos tive que parar. Mas ficou uma semente plantada, a de que eu teria que me formar num curso superior, custasse o que custasse. Mesmo que não fosse a medicina. Não consegui me formar em médico, mas dois irmãos meus se formaram e na minha busca terminei advogado, vivendo uma epopeia juntamente com alguns companheiros, digna de um romance. Começamos com onze ou doze estudantes seguindo em uma Kombi paga por nós, para irmos todas as noites a Itabuna e terminamos com três: eu, Dr. Anchises e a professora Irene, esposa de Anchises. Sem colher de chá, sem ajuda ou apoio de quase ninguém. A estrada estava ainda em construção e muitas vezes nós ficamos presos nela em atoleiros, carros quebrados e muitos outros empecilhos. As nossas famílias muito preocupadas com tantas noites que chegávamos quase ao amanhecer. Mas conseguimos realizar o nosso sonho. Foi difícil, mas fácil só existe no dicionário. Quando me formei tinha uma Brasília verde que tinha buraco até no teto. Mas valeu a pena. 


Muitas vezes a gente tem uma meta que de alguma maneira se torna impossível de realizar. E insiste até a exaustão sem perceber que pode existir um plano B, uma alternativa viável.
De fato, quando um avião levanta voo, por exemplo, existe sempre um plano, um planejamento rigoroso para a viagem, em que é traçada uma rota, a altura, a distância, tudo. São milhares de voos ao mesmo tempo e se não forem dirigidos e traçados pelos controladores de voo, o desastre é inevitável. Um avião não enxerga o outro, pois, viajando a altas velocidades somente veem um vulto que passa por eles e ai o desastre é certo. Mas quando acontece alguma coisa que torna impossível a rota traçada, é imprescindível que seja posto em prática um plano alternativo, o plano B.

Quantos de nós, a maioria, certamente, não mudou de rumo durante a longa jornada da vida? Quantas dificuldades superadas e vencidas em nosso caminho, na busca da realização de nossos anseios e que nos obrigaram a traçar um plano B, no curso da estrada. E não é para ficar triste não, nem deprimido, porque muitas vezes a chegada a outro porto é tão boa, tão realizadora, que nós às vezes descobrimos que este porto era o que nós procuramos por toda a vida sem saber.

A felicidade está, às vezes, na adaptação e na descoberta de outros caminhos que muitas vezes são inesperados, mas no final nos tornam tão felizes como os que aspiramos um dia.

Paulo Cabral Tavares