21 novembro 2012

Artigo- Como bode de bicheira

Advogado Paulo Cabral Tavares
A eleição para mim é uma festa. É o período de acompanhar carreatas, comícios, tomar cerveja, torcer pelo meu candidato e, se os reis do palanque permitirem (este ano só permitiram que eu falasse uma vez), fazer um ou outro discurso.

É a festa da democracia, com todos os seus vícios, com todas as suas imperfeições. Mas não resta dúvida que este é o melhor dos regimes políticos. Mas eu não perco o foco. Sei muito bem enxergar um oportunista em qualquer nevoeiro. E tenho um bom olfato para localizar um golpista a quilômetros de distância. Nas carreatas deste ano eu levei muitas vezes o meu amigo Humaitá dentro do meu carro. Humaitá sempre tem uma boa tirada, espirituosa e engraçada. Desta vez ficou gravada na minha memória, quando eu lhe fiz a pergunta em uma das carreatas, “e se a gente perder?”

De pronto, Humaitá me disse:
-Eu me entoco como bode de bicheira...

O bode de bicheira se esconde como se a doença fosse uma vergonha e, se o dono não o for procurar, é capaz até de morrer escondido em algum lugar na mata. Passa um tempo fora de circulação.
Eu garanto que não me iria entocar e, faria todo o possível para aceitar a derrota como uma consequência natural da disputa. Na verdade sempre haverá em qualquer eleição, um vencedor e um vencido, uma vez que neste jogo de foice não dá empate.

E a vida segue. E é tão breve que a gente não pode ficar remoendo os desacertos dela, da vida. temos de curar as feridas, se der para curar, e seguir em frente. Não é porque atrás vem gente, como diz o ditado popular, mas porque a gente precisa da vida, como a vida precisa da gente, para existir. Assim não dá para ficar chorando o leite derramado, pois, não tem retorno. Não dá para envasilhar de novo.

Assistimos e participamos, pois,com tanta propaganda a nos humilhar os ouvidos diariamente, é difícil não se engajar. Não dá para ficar alheio à disputa. Só que a gente poderia ter mais um pouco de moderação, pelo menos adotar o cinismo da propaganda das bebidas alcoólicas que gastam uma montanha de dinheiro para nos induzir a consumir a cada vez mais, trazem sempre um lembrete: “beba com moderação”.
Apesar do calor da disputa, nós deveríamos aprender e lembrar que devemos ter um pouco de cuidado e de moderação nas provocações, nos debates e nas afirmações que costumamos fazer no período eleitoral. Uma vez que, muitas vezes, o que dizemos vai ferir alguém.

E como diz o provérbio, a pedra atirada, a flecha lançada e a palavra proferida não têm retorno. em nenhum dos casos dá para segurar mais. Assim, as nossas verdades eleitorais deveriam passar pelo crivo de nossa reflexão, se é que isto é possível, para não ferir os outros. mesmo porque o período eleitoral vai passar, mas nós continuarem vivendo na mesma cidade, convivendo com as mesmas pessoas, olhando uns aos outros e podemos muitas vezes nos arrepender de ter atingindo um amigo, um companheiro sem necessidade.

Ainda bem que não foi preciso me entocar como o bode de bicheira. Mas, assim como sei perder, sei também ganhar. Jamais tripudiarei com qualquer pessoa que perdeu a eleição. nem ao menos cobrarei daquele cara que me provocou tantas vezes no período eleitoral. Como diz Carlos Drumond de Andrade, no célebre poema “a festa acabou”, e só nos resta voltar à realidade do dia a dia. Voltar à vida, à planície, e rezar para que os eleitos se saiam melhores do que a safra de 2008 que se fosse uma safra de vinhos seria rejeitada por qualquer apreciador da nobre bebida.