Artigo: Acertando (ou errando) o alvo

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Por: Paulo Cabral Tavares, advogado

Às vezes na vida, por mais pontaria a gente faça, erra o alvo. Na minha geração, principalmente entre os meninos pobres, como eu fui, o sonho de realização, passava sempre por comprar uma roça de cacau. No princípio eu esperava chegar a colher umas quinhentas arrobas de cacau. Não era preciso mais do que isso.
O ideal era comprar um carro – um fusquinha é claro - fazer a casa própria, casar com a mulher amada, constituir uma família e poder criá-la com certo conforto e com a possibilidade de oferecer uma educação digna aos filhos.

Crescemos sob os mitos de coronéis acendendo charutos com notas de cem cruzeiros, em cabarés de alto luxo, onde fervilhavam “francesas” importadas. Era um tempo em que uma arroba de cacau pagava o salário mensal de um trabalhador. Guardadas as proporções, a arroba estaria hoje ao preço de mais ou menos seiscentos reais. E apostamos, nós daquele tempo, em investir tudo o que ganhávamos em roças de cacau. E até muito tempo depois, mesmo vendo os filhos dos grandes fazendeiros em situação difícil, continuamos a apostar na mística da roça de cacau.

Sem dúvida erramos o alvo. E nos colocamos numa sinuca de bico. Não sabemos e não podemos a esta altura da vida,mudar o rumo econômico. Desfazermos-nos das roças que compramos, com muita luta e dificuldades, para iniciar um novo negócio, sem ter conhecimento algum de como o tocar. E fica difícil manter as fazendas de cacau. Pelo baixo preço do produto e pelos altos encargos trabalhistas e sociais que oneram o negócio agrícola, principalmente no caso da agricultura cacaueira, que exige um grande número de trabalhadores para ser tocada.

Como em muitos casos da vida, não existe uma saída fácil. Fácil, aliás, é uma palavra que só existe no dicionário. Na vida, por mais que aparentem ser fáceis, todas as coisas, ou quase todas, são conseguidas com muita ralação e muita batalha. Mas é assim queé bom. Pois você só valoriza a vitória se ela for suada, lutada, obtida com muito esforço. Talvez aí esteja a grande lição para a geração que veio depois dos grandes coronéis. Que não aprendeu a fazer nada além de gastar o dinheiro fácil das roças de cacau, não soube valorizar as conquistas anteriores, muitas vezes regadas com o sangue de inocentes.

Não quero apenas me lamentar e maldizer as conquistas que obtivemos no curso da vida. NÃO. Não é para ficar chorando o leite derramado. Não vamos poder engarrafá-lo outra vez. Temos que buscar alternativas.Novas saídas. Já não somos mais os meninos que sonhavam com pequenas roças de cacau e em ter o carro e a casa própria. Já apanhamos muito da vida. E também já conquistamos muitas batalhas. Apesar de haver errado o alvo, tivemos muitos acertos. E aprendemos também. Temos que ter uma agenda positiva e nos lembrar de tantas vitórias que tivemos no decorrer da longa jornada e buscar, agora,com uma estrutura com muito mais possibilidades do que quando começamos, resolver nossos problemas com sabedoria.

Foi para isso que ficamos velhos.Para aproveitar a sabedoria que adquirimos durante a nossa longa vida. Não podemos mais acender cigarros ou charutos com notas de cem. A bem da verdade, não devemos nem fumar, pois, não faz bem à saúde. Mas uma vez que não podemos apagar nosso passado e nossas realizações,devemos arranjar um jeito de nos dar bem com eles. Podemos até continuar errando o alvo. Mas a busca é aprendermos a acertá-lo, porque assim é a vida, é tentando que aprendemos, até chegar a um momento que vamos acertar em cheio. Isso só não acontecerá se nós não tentarmos. Assim, vamos à luta na nossa eterna busca de realizações.

Ubatã, 25 de maio de 2013.
Paulo Cabral Tavares

 

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